Há cerca de 15 dias, recebí o telefonema do atirador Rui, me informando que tinha uma pistola antiga para reformar. Perguntei a marca e ele não soube me informar: Disse apenas que a pistola era muito antiga, tinha pertencido a um parente já falecido e estava parada havia bastante tempo. O atirador foi até minha casa e me mostrou a peça. Percebí que se tratava de uma pistola URKO muito antiga mesmo. Um dos primeiros modelos de arma de pressão projetados pela fábrica paulista, que produziu também inúmeras armas de fogo nos calibres .22 e .38 e, ao contrário do que muitos leigos comentam, fez sim muitos produtos de qualidade. A pistola não estava funcionando. Fiquei de examina-la para fazer um diagnóstico preciso. Pedí que Rui me ligasse duas horas mais tarde. Ao desmontar completamente a pistola, constatei que o pistão estava quebrado e sem bucha. Em virtude disto a pistola sequer conseguia armar, pois é justamente o pistão que, ao ser compelido para trás da câmara, fica preso no retentor do gatilho, mantendo assim a arma pronta para o disparo. Informei meu novo amigo atirador que, infelizmente, seria muito difícil a recuperação da sua arma devido não haver mais no mercado peças de reposição para esta pistola de pressão. Rui me disse que não interessava pra ele manter em casa uma arma que não funcionava e que eu poderia ficar com a URKO e tentar recupera-la pra fazer parte da minha pequena coleção. Independente de qualquer coisa, é um desafio pra mim como técnico recuperar qualquer arma de pressão parada, embora isto seja tarefa difícil quando esbarro na falta de algumas peças de reposição. Como viajo bastante, deixei o pistão quebrado guardado no meu carro pra que, caso visitasse algum velho ferreiro ou atirador tentasse encontrar uma peça semelhante, mesmo que estivesse usada. ôntem, fomos pescar no interior e um primo me apresentou a um amigo que me perguntou se eu não tinha um cano de pistola de pressão pra vender. Curioso pedí para ver sua arma. O rapaz foi a sua casa e voltou trazendo uma velha pistola urko com o cano literalmente torto. Sorrí para o rapaz e lhe disse que eu não tinha cano pra vender mas,que, caso o pistão da sua pistola tivesse bom, me interessava adquirir as peças da sua arma. Ele me disse que aquilo não servia pra nada mesmo e que faríamos negócio. Resultado:Entreguei uma vara de pescar completa pra ele em troca do pistão com a bucha e a mola de sua velha URKO.E olha que o pistão não estava essa coca-cola toda não!
Hoje mesmo de manhã, bem cedo, eu instalei as peças que adquirí na pistola URKO que pertencia ao atirador Rui e que é a personagem principal desta matéria, e a arma funcionou perfeitamente. Aproveitei e instalei outra mola mais potente, massa de mira e uma alça de mira, que eu mesmo confeccionei em plástico.Testei sua potência e precisão e fiquei impressionado com sua qualidade. O primeiro disparo foi feito em uma vasilha plástica de óleo diesel a distância de 8 metros. Para nossa surpresa, o chumbinho transfixou completamente o duro plástico, bateu na parede de concreto e ainda ricocheteou. Isto me fez ir até a casa de outro atirador amigo meu para emprestar seu cronógrafo, que é o único instrumento adequado para medir a velocidade de uma arma de pressão. Feito o teste, constatei o que já imaginava: A pistola URKO,já devidamente consertada e lubrificada atingiu a velocidade de 140,5 m/s superando assim, em potência, as pistolas de pressão Gamo e se igualando a pistola Hatsan 25, sendo que, o gatilho da Urko é mais macio e muito superior ao da Hatsan.
Atirador testando a potência da pistola de pressão URKO calibre 4,5mm(.177).
Na imagem acima, a pistola de pressão urko e o que restou da tampa de uma caneta bic, ao ser atingida por um tiro desta pistola, à distância de 8 metros.
A URKO acertou quando confeccionou o cano desta pistola de pressão com 12 raias(grande parte das pistolas de fogo tem apenas 6)pois isto lhe conferiu uma boa precisão. Neste quesito, este técnico atribuiu nota 9 à pistola.
Seu peso de 1kg se assemelha muito ao de uma pistola de fogo carregada e isto conta ponto na hora do treinamento: Porte, saque, enquadramento etc. Principalmente pra quem tem arma de fogo curta e não quer gastar muito com munição, que atualmente tem seu preço desmedidamente alto.
Mais uma raridade que conseguimos salvar. Raridade? sim, isto mesmo. Esta pistola de pressão foi e é o sonho de consumo de muitos atiradores que, desde a infância presenciaram intermináveis sessões de tiro com este modelo de pistola, nas barraquinhas dos parques de diversões espalhados por este Brasilzão. É isto que mantém acesa a chama do fascínio pelas armas de ar comprimido.
Abraço a todos atiradores e em especial,ao meu amigo Rui, que poderá atirar novamente com a velha urko.
* *O autor Wsniper é atirador e técnico em manutenção de armas de pressão.